quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga, Câmara Ardente

A Lígia, atenta, lembrou este poema de Torga.
Tanta verdade!

2 comentários:

Anónimo disse...

Lurdes,
Este poema de Torga surge no momento exacto. A intemporalidade é notória, e a denúncia da sua indignação perante a evidente "mentira/Quotidiana" e a "comédia desumana/ E triste,/Que resiste." é incentivante.
Mas, realmente, o que mais me tocou, nesta mensagem, foi o facto do poeta lembrar-nos que, mesmo que sejamos apenas "um só", já vale a pena e que somos senhores do nosso julgamento "Do que presta/ E não presta/ Nesta vida."
Claro, Lurdes, que após a leitura do poema, de imediato me surgiram outros textos que me levaram a reflectir sobre tudo isto. E, desta vez, foi o poema (prosa-poética)de Bertold Brecht "Se os tubarões fossem homens".Penso que nos fariam o mesmo que gostariam de fazer aos peixes!
Não consegui enviar-lhe o poema mas se tiver curiosidade consulte o site www.culturabrasil.pro.br/brechtantologia.htm.
Bjs.
Beatriz

LurdesC disse...

Ah,Beatriz, estas nossas conversas são enriquecedoras.
Claro que vou ver o sítio que indica.
Obrigada pela partilha...e pela amizade!